No Brasil, a cannabis medicinal está ganhando cada vez mais atenção por parte dos dentistas. Eles estão formando grupos de estudos para discutir casos clínicos e pesquisas científicas, a fim de aprimorar seus métodos e aplicações em clínicas em todo o país. Isso mostra um crescente interesse da comunidade odontológica em explorar os benefícios da cannabis medicinal no tratamento de diferentes condições de saúde bucal.
A iniciativa visa embasar melhor as práticas clínicas e proporcionar um atendimento mais eficiente e adequado aos pacientes.
É importante destacar que, atualmente, são poucos os profissionais da área odontológica que prescrevem THC (tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol) para seus pacientes. Além disso, apenas uma pequena parcela dos mais de 180 mil pacientes de cannabis medicinal no país são provenientes da odontologia.
Isso indica que ainda há muito a ser explorado em relação ao uso da cannabis medicinal na odontologia e que é necessário que mais profissionais se aprofundem no assunto para que mais pacientes possam se beneficiar desses tratamentos.
Os compostos medicinais encontrados na Cannabis têm sido utilizados para tratar uma série de condições, incluindo distúrbios temporomandibulares. Esses distúrbios podem ser causados por diversos fatores, como problemas nos músculos da mandíbula ou das articulações, bem como no tecido fibroso que os une.
O uso de compostos medicinais da Cannabis tem mostrado resultados positivos no tratamento dessas condições, oferecendo uma opção terapêutica alternativa para pacientes que sofrem de dores e desconfortos na região da mandíbula e da articulação temporomandibular.
Antes de prescrever tratamentos à base de cannabis, é fundamental que o profissional tenha uma formação sólida e conheça bem os endocanabinoides produzidos pelo corpo humano, assim como os fitocanabinoides encontrados na cannabis.
Esses conhecimentos são essenciais para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos, além de permitir que o profissional possa orientar adequadamente seus pacientes sobre o uso desses compostos. Portanto, é necessário que o profissional se atualize e se especialize no assunto para oferecer um atendimento de qualidade e seguro.
O Conselho Federal de Odontologia (CFO), principal entidade representativa do setor, tem apoiado o uso da cannabis medicinal, mas destaca a importância da formação adequada dos profissionais que a utilizam.
Segundo o CFO, se o profissional tiver conhecimento sobre o medicamento e souber como administrá-lo corretamente, não há problema em usá-lo no tratamento dos pacientes. Essa orientação é válida para todos os medicamentos, não apenas para a cannabis medicinal.
Portanto, é fundamental que os profissionais que desejam prescrever tratamentos à base de cannabis sejam bem informados e capacitados para garantir a segurança e a eficácia dos tratamentos oferecidos aos pacientes.
Assim como na Medicina, a cannabis medicinal tem mostrado versatilidade em seus possíveis usos na Odontologia, podendo ser empregada em diversas fases do tratamento, desde antes até depois do procedimento. Ela tem sido utilizada em procedimentos como restaurações, modulação de sedação e como analgésico pós-operatório ou para estimular a formação de novo osso (osteoindução).
O THC é indicado para tratar casos de dor, enquanto o CBD é mais apropriado para inflamações. Os dentistas consideram igualmente importantes os dois canabinóides e a centena de outros compostos presentes na planta em suas versões full spectrum.
Esses compostos têm apresentado resultados promissores no tratamento de diversas condições, como bruxismo, dores dentárias e neuropáticas, enxertos, disfunção da articulação temporomandibular (DTM), inflamação, cicatrização, periodontite e controle bacteriano. Apesar de a terapia canabinoide aplicada à Odontologia não ser uma novidade no mundo, ela ainda não se popularizou no Brasil.
Países como EUA e Canadá são os principais expoentes nessa área, abrangendo desde o atendimento clínico até a criação de produtos para a higiene bucal, como pastas de dente e enxaguantes à base da planta.
Prescrição é uma receita fornecida mediante consulta com um profissional da saúde, neste caso o dentista, que pode prescrever medicamentos com base em cannabis para tratar. A receita é necessária hoje no Brasil de acordo com a lei.
A cannabis medicinal é a utilização de substâncias derivadas da planta conhecida como maconha para fins específicos na área da saúde. Isso não tem relação com o uso recreativo ou adulto da planta, mas sim com o uso de compostos com propriedades terapêuticas para o bem-estar de pessoas com diferentes condições de saúde.
Em várias partes do mundo, essa prática já é comum, como no caso de pacientes com câncer que buscam aliviar os efeitos colaterais da quimioterapia ou pacientes com Alzheimer que desejam um melhor equilíbrio neuroquímico. Em outros casos, a prescrição pode ser feita para pacientes com doenças como epilepsia, glaucoma ou em estado terminal.
A maioria dos medicamentos produzidos a partir da cannabis contém canabidiol (CBD) ou tetrahidrocanabinol (THC), que possuem propriedades analgésicas e relaxantes. É importante lembrar que esses medicamentos só podem ser vendidos com prescrição médica e dentro das concentrações estabelecidas por lei.
Para entender melhor como a cannabis medicinal funciona, é preciso compreender que seus componentes atuam no sistema endocanabinoide humano, que é essencial em funções biológicas como memória, apetite, resposta ao estresse, imunidade, equilíbrio energético, modulação de dor e regulação do sono e da vigília.
Ao estimular os receptores do sistema endocanabinoide com os compostos da cannabis medicinal, é possível alcançar um equilíbrio em vários processos fisiológicos no corpo, com poucos ou nenhum efeito colateral, pois os compostos terapêuticos tendem a ser bem tolerados pelo organismo.
Na área da odontologia, por exemplo, a cannabis medicinal tem sido utilizada para tratar distúrbios da Articulação Temporomandibular (ATM), que causam muito desconforto aos pacientes. O THC e o CBD ativam os receptores endocanabinoides no cérebro e nos tecidos musculares, aliviando dores e sintomas associados a esses distúrbios.
Listamos abaixo algumas possibilidades de tratamento com cannabis medicinal na área de odontologia.
O controle da dor é um dos principais benefícios da cannabis medicinal para pacientes odontológicos. A dor é uma queixa comum na área, especialmente em pacientes sensíveis ou em procedimentos invasivos, podendo até impedir a realização dos procedimentos em alguns casos.
É interessante destacar que alguns dos principais compostos encontrados na planta, como o canabidiol e o THC, possuem efeitos analgésicos e anti-inflamatórios potentes. Os nervos periféricos envolvidos na detecção da dor contam com receptores canabinoides, que podem ser positivamente afetados pelo uso desses compostos terapêuticos.
Muitos procedimentos realizados no consultório odontológico envolvem incisões, enxertos ou tratamento de lesões crônicas, já que a cavidade oral é extremamente sensível e propensa a diversos problemas de saúde bucal. Dependendo da condição a ser tratada, o organismo pode precisar recrutar células de defesa ou de reparação tecidual, mesmo na região bucal. A cannabis medicinal pode ajudar nesse sentido, inclusive em recuperações após traumas.
Muitas pessoas ficam ansiosas e preocupadas ao pensar em ir ao dentista, especialmente aquelas que sofrem de problemas mentais, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico. Felizmente, a cannabis medicinal pode ajudar em todos esses casos.
A vida estressante nas grandes cidades e a pressão do trabalho levaram a um aumento na venda de medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, apesar de seus efeitos colaterais. Por outro lado, o canabidiol e o THC tendem a não apresentar reações adversas e podem ajudar a promover relaxamento e tranquilidade nessas situações.
O sistema endocanabinoide desempenha um papel importante na regulação dos processos inflamatórios que são comuns em muitas situações na cavidade bucal. Por esse motivo, a cannabis medicinal pode ser uma opção para controlar a inflamação, como no caso de quadros de gengivite.
Além disso, devido à sua atividade nos tecidos duros, os compostos da planta também podem ser usados no tratamento odontológico com implantes, promovendo analgesia no pós-operatório e ajudando na cicatrização das lesões intraorais. Tudo isso com poucos ou nenhum efeito colateral.
O paciente odontológico pode apresentar enjoos e vômitos antes ou depois dos procedimentos, ou pode sentir náuseas devido a outras condições associadas. Felizmente, a cannabis medicinal pode ajudar nesses casos. Muitas vezes, a causa pode ser psicossomática, relacionada mais ao cérebro do que ao estômago.
A ansiedade associada a uma simples visita ao consultório odontológico ainda afeta muitas pessoas, mas os compostos da cannabis podem ajudar a regular essa sensação de mal-estar, agindo nos receptores canabinoides. Tanto o THC quanto o canabidiol demonstraram ter ações positivas nesse sentido.
Além de ajudar a reduzir os sintomas de enjoos, náuseas e vômitos que podem surgir durante alguns tratamentos odontológicos, a cannabis medicinal também pode ter efeitos positivos no sistema gastrointestinal. As causas do desconforto nessa região podem ser multifatoriais, mas precisam ser tratadas para melhorar a qualidade de vida do paciente.
Um exemplo comum de desconforto é o uso de analgésicos e anti-inflamatórios convencionais, que podem afetar as paredes do estômago. Também pode ser causado por medo, estresse e ansiedade. Os compostos da planta estimulam os receptores do sistema endocanabinoide, permitindo que o paciente siga em frente sem maiores problemas.
Após procedimentos mais complexos no consultório odontológico, como implantes, tratamentos de canal, gengivectomias ou restaurações, é comum que a mastigação se torne mais difícil. Isso pode gerar desconforto na cavidade oral do paciente.
Novamente, os derivados da planta podem ser uma grande ajuda quando prescritos corretamente. Eles podem estimular o apetite, sem causar reações adversas e com pouco ou nenhum efeito psicoativo para o paciente, diferentemente do consumo recreativo de maconha. Mesmo em doses baixas, os benefícios podem ser significativos.