Que a Cannabis possui diversos tipos você já sabia, mas conhece todas? A diversidade de espécies de cannabis prova a versatilidade da planta e amplia suas possibilidades de uso na medicina.
A Cannabis medicinal tem sido utilizada para o tratamento de diversas doenças, com eficácia comprovada por meio de diversos estudos científicos. Por isso, é uma planta de grande valor para a indústria farmacêutica.
No Brasil, o mercado de Cannabis deve movimentar cerca de R$ 5 bilhões nos próximos três anos, o que evidencia a iminente expansão desse setor. É essencial que os consumidores estejam informados para compreender amplamente a introdução de compostos derivados da Cannabis em produtos medicinais, como óleos e pomadas.
Assim como no reino animal há diferentes tipos de animais, como mamíferos, roedores e aves, entre as plantas também existem diferentes formas de classificação.
No caso da Cannabis, isso significa que ela pertence à ordem das Rosales, que engloba plantas com flores. A família à qual pertence é a Cannabaceae, onde também se encontra o lúpulo, usado na fabricação de cerveja. O gênero é Cannabis.
Conhecemos e catalogamos três plantas do gênero Cannabis, e cada uma delas tem usos específicos e distintos, além de se diferenciarem pela concentração de substâncias ativas.
Atualmente, os principais laboratórios farmacêuticos dedicados ao estudo e pesquisa sobre a Cannabis concentram-se em três subespécies da planta: Cannabis sativa, Cannabis indica e Cannabis ruderalis. Todas essas subespécies possuem o mesmo centro de origem, mas adaptaram-se a diferentes regiões do mundo, de acordo com o engenheiro agrônomo Lorenzo Rolim.
Ao longo dos milênios, a Biologia catalogou vários tipos de Cannabis. Apesar das descobertas de taxonomistas de diferentes épocas históricas, alguns acreditam que a espécie Cannabis sativa é a única existente. No entanto, como explica Rolim, pesquisador da planta e proprietário de uma consultoria agronômica para indústrias de cânhamo industrial e Cannabis medicinal, com o sequenciamento genético nuclear, sabe-se que indica e ruderalis são subespécies da sativa.
Cada subespécie apresenta características únicas que as distinguem. A seguir, apresentaremos as características da Cannabis sativa e suas subespécies.
A Cannabis sativa é encontrada principalmente em climas quentes e secos, com longos dias de sol, como na África, América Central, Sudeste Asiático e partes ocidentais da Ásia. Essas plantas são altas e finas e demoram mais tempo para amadurecer do que outras subespécies.
A Cannabis sativa geralmente apresenta doses mais baixas de CBD e mais altas de THC. Devido à maior concentração de THC, a subespécie sativa tem efeito estimulante e terapêutico reconhecido no tratamento de diversas doenças, como ansiedade, dor crônica e epilepsia.
A Cannabis indica é originária do Afeganistão, Índia, Paquistão e Turquia e adaptou-se ao clima das montanhas Hindu Kush. Essas plantas são mais largas e baixas do que a subespécie sativa, crescem mais rápido e possuem níveis mais elevados de CBD e menos THC.
A Cannabis indica tem alta concentração de canabidiol (CBD), o canabinoide não psicoativo que vem ganhando popularidade e prestígio por seus benefícios. Com efeito relaxante, é usada no tratamento de diversas doenças e condições de saúde, como insônia, dores de cabeça e dores musculares.
Existe outra subespécie de Cannabis menos comum, chamada de ruderalis. No entanto, ela não é amplamente utilizada por não produzir tantos efeitos quanto as outras subespécies. A ruderalis adapta-se a ambientes extremos, como a Europa Oriental, regiões do Himalaia na Índia, Sibéria e Rússia.
A subespécie ruderalis apresenta pouco THC e quantidades maiores de CBD, mas pode não ser suficiente para produzir efeito medicinal. Em termos de efeitos, a Cannabis ruderalis é mais rica em canabidiol e produz pouco tetrahidrocanabinol (THC), que também é usado como substância ativa em alguns medicamentos.
Por ser uma planta de baixa potência, a ruderalis é a menos utilizada para fins medicinais.
Considerando as diversas possibilidades medicinais da espécie e subespécies de Cannabis, é natural que haja questionamentos sobre as diferenças entre os dois tipos mais populares, a sativa e a indica.
A primeira diferença notável entre as duas subespécies é o padrão das folhas da indica, com ramos mais finos e espaçados. Em termos medicinais, devido à maior concentração de THC, a subespécie sativa tem um efeito mais estimulante. Em contrapartida, a subespécie indica apresenta propriedades relaxantes devido aos níveis mais altos de CBD.
No entanto, o agrônomo Lorenzo Rolim destaca que não há estudos suficientes que comprovem que cada tipo seja bom para um ou outro sintoma. Embora existam características diferentes entre as subespécies, a escolha da Cannabis mais adequada para determinado tratamento deve ser avaliada individualmente por um profissional de saúde qualificado.
A origem da Cannabis remonta ao continente asiático. Acredita-se que ela seja cultivada há, pelo menos, seis mil anos na vasta região entre a China, a Mongólia e o sudeste da Sibéria. No entanto, há indícios de que a planta da maconha seja utilizada há cerca de dez mil anos, desde a Revolução Neolítica, quando o homem se tornou sedentário e agrícola.
Desde os tempos remotos, a Cannabis já era utilizada com fins medicinais e espirituais. No livro chinês Pen-Tsao, de 1578, considerado o mais completo da história da medicina tradicional chinesa, já se descrevia o uso da Cannabis como uma planta medicinal, indicada para o tratamento de dores articulares, gota e malária.
Apenas em 1963, o químico israelense Raphael Mechoulam isolou o canabidiol, uma das principais substâncias extraídas da planta e utilizadas na medicina moderna. Essa descoberta representou uma nova era de estudos sobre a Cannabis. A partir dela, a ciência descobriu o sistema endocanabinoide, responsável por regular diversas funções do corpo, incluindo o sistema reprodutivo.
A Cannabis possui uma longa história de uso humano, e continua sendo objeto de estudo e pesquisa em diversas áreas da ciência.
O uso da Cannabis ainda é limitado devido ao desconhecimento ou preconceito. No entanto, é importante destacar que o consumo recreativo de maconha não tem relação com a utilização da planta para fins medicinais no tratamento de diversas doenças. Além disso, a Cannabis serve como matéria-prima para a fabricação de uma variedade de produtos e insumos.
O uso medicinal da Cannabis é amplamente documentado e eficaz no tratamento de diversas condições de saúde. A planta pode ser administrada de diversas formas, como cápsulas de canabidiol, óleos e tinturas de CBD, produtos tópicos, supositórios e vaporizadores. Algumas condições médicas que podem ser tratadas com a Cannabis incluem ansiedade, câncer, diabetes, autismo, doenças reumáticas e endometriose. Vale destacar que nem todos os formatos de produtos são comercializados no Brasil, sendo autorizados apenas aqueles que podem ser utilizados por via oral ou nasal, de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 327/2019 da Anvisa.
Além do uso medicinal, a Cannabis também é utilizada para fins comerciais, principalmente na fabricação de cosméticos como óleos, cremes hidratantes, xampus e sabonetes. É possível produzir itens eficazes no combate à acne e no tratamento de pele e cabelos.
CBD é o acrônimo utilizado para designar o canabidiol, a substância ativa encontrada na Cannabis que é utilizada como base para a fabricação de medicamentos. Junto com o THC, ela é um dos cerca de 120 canabinoides já estudados pela medicina e pela indústria farmacêutica. O CBD pode ser usado para tratar doenças como depressão, Alzheimer, Parkinson, autismo e até para cuidados paliativos em tratamentos de câncer.
Já o THC, ou tetrahidrocanabinol, também interage com o sistema endocanabinoide do corpo humano. Apesar de ter uso terapêutico, ele é menos utilizado que o CBD e depende do tipo de medicamento que se pretende fabricar.
No cultivo da Cannabis, foram desenvolvidas plantas híbridas que combinam as características das subespécies Cannabis sativa e indica, oferecendo uma maior eficiência de produção.
Essas plantas são preferidas pelos cultivadores, já que podem crescer tão rápido quanto a Cannabis indica e ter alto rendimento como a sativa. Além disso, elas possuem uma variedade de genéticas que podem ser usadas para tratar uma ampla gama de doenças.
Ao escolher a planta de Cannabis para cultivo, é importante considerar o gênero da planta. Os machos são identificados por pequenas esferas de pólen, enquanto as fêmeas têm pistilos, que são um tipo de flor em estado embrionário. Já a Cannabis hermafrodita apresenta características de ambos os gêneros e é uma manifestação rara da planta.
É importante ressaltar que cada tipo de planta apresenta concentrações distintas de substâncias ativas e que, por isso, o cultivo de híbridas é vantajoso para produzir plantas com o melhor de cada subespécie.