Maconha vicia?

Maconha vicia?

A questão sobre se a maconha vicia ou não ainda é controversa. Do ponto de vista científico, não há um consenso claro, e o debate também não é conclusivo entre a população em geral. O que se argumenta com mais frequência é que a maconha pode causar dependência apenas de forma psicológica, e não física. Mas o que exatamente isso significa?00 Uma coisa é certa: a maconha é uma droga derivada das plantas Cannabis sativa e Cannabis indica, e a substância psicoativa presente tanto na erva quanto no haxixe é o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC). O THC pode produzir efeitos psicoativos quando consumido por meio de fumo, inalação, ingestão oral ou até mesmo intravenosa. Neste contexto, vamos nos concentrar na biodisponibilidade do THC quando fumado, que é de cerca de 20%. Em outras palavras, se um cigarro de maconha contém aproximadamente 30 mg de THC, apenas cerca de 6 mg serão absorvidos pelo organismo. Para entender melhor como esses 20% são absorvidos pelo corpo humano, é importante compreender o processo. Quando a fumaça é inalada, ela é rapidamente absorvida pelos pulmões. Em um período de seis a dez segundos, a substância atinge o cérebro através da corrente sanguínea e interage com os mecanismos de transmissão de estímulos entre os neurônios, que são as células fundamentais do sistema nervoso central. É importante ressaltar que os neurônios não transmitem informações como fios elétricos encostados uns nos outros. A comunicação entre os neurônios é muito mais avançada do que qualquer tecnologia existente, ocorrendo de forma “sem fio”. Entre eles, há um espaço chamado sinapse, onde ocorre a liberação e captação de mediadores químicos. É nesse ponto que entram em cena os endocanabinoides, substâncias naturalmente presentes no organismo. Essa transmissão de sinais modula a intensidade dos estímulos nervosos, como dor, prazer, angústia e tranquilidade. Por essa razão, essas substâncias são consideradas psicoativas, pois interferem na liberação dos mediadores químicos, modulando a quantidade liberada ou prolongando a permanência deles na fenda sináptica, o espaço onde ocorre a conexão entre os neurônios. Com isso, são ativados mecanismos que podem alterar a percepção e a forma como enxergamos o mundo.

Uso da maconha e suas implicações

A maconha é uma das substâncias psicoativas mais amplamente utilizadas no mundo, ficando atrás apenas do álcool e do tabaco. Embora seja considerada menos tóxica do que outras drogas ilícitas, o uso frequente pode levar à dependência química e a outros problemas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Estima-se que a dependência afete até 10% dos usuários. Atualmente, não há um tratamento específico para controlar o desejo incontrolável de usar a droga, mas há uma opção emergente no campo científico: o canabidiol (CBD). No debate sobre o uso recreativo da maconha, muitas vezes falta profundidade e sobram emoções. Enquanto persiste a ideia equivocada de que a maconha é relativamente inofensiva, é ainda mais absurdo permitir o uso indiscriminado de álcool e tabaco e demonizar apenas a maconha. Vale ressaltar que o cigarro de maconha, popularmente conhecido como baseado, contém alguns dos componentes presentes no cigarro de tabaco comum. Um estudo publicado em 2012 no The Journal of the American Medical Association (Jama) investigou os efeitos do fumo de maconha na função pulmonar em mais de 5 mil pessoas. O estudo demonstrou que o uso intenso e prolongado da maconha, por mais de dez anos, está associado a um declínio na capacidade pulmonar. No entanto, para alívio geral, observou-se que o uso moderado por até 7 anos não causou danos significativos aos pulmões, ao contrário do que foi constatado em fumantes de tabaco comum, que apresentaram efeitos adversos mais graves mesmo com a mesma frequência de uso. As repercussões psicológicas do uso da maconha variam entre prazer e ansiedade, dependendo da individualidade e do estado de espírito de cada usuário, do ambiente em que ocorre o consumo e da qualidade da droga. Em pessoas que experimentam a maconha pela primeira vez, é importante estar atento ao aumento leve da frequência cardíaca. Não é motivo para pânico, como se fosse causar um infarto instantaneamente. No entanto, essa aceleração pode causar desconforto ou ansiedade. O risco se torna mais relevante quando o usuário possui histórico pessoal ou familiar de transtorno de ansiedade ou pânico. Da mesma forma, as repercussões no humor podem variar ao fumar maconha. Ela pode causar sensação de relaxamento e calma, mas também pode desencadear agonia, ansiedade e angústia. Novamente, isso está relacionado às condições psicológicas do usuário, à qualidade da substância e aos níveis de THC presentes na maconha. Quanto maior a concentração de THC, maior a probabilidade de a maconha induzir desconforto e emoções negativas em usuários com histórico de ansiedade.

Porque podemos viciar?

Ao longo da evolução, os seres humanos desenvolveram o que chamamos de sistema de recompensa no cérebro. Esse sistema desempenha um papel crucial na nossa sobrevivência e no da espécie, estimulando-nos a buscar alimentos, sexo e outras atividades necessárias à nossa existência. Ele é responsável por transmitir sensações de prazer por todo o corpo. As drogas têm a capacidade de hiperestimular o sistema de recompensa, criando uma sensação intensa e fugaz de prazer, uma ilusão puramente química. Em algumas pessoas, essa experiência pode desencadear uma compulsão, motivada tanto por fatores físicos quanto psicológicos. Freud também explicou que esse fenômeno pode estar relacionado à busca de alívio das angústias causadas pela vida em sociedade. Substâncias como cocaína, crack, álcool e até mesmo açúcar agem como atalhos para uma liberação massiva de neurotransmissores na fenda sináptica. No entanto, quando essa onda de prazer passa, ocorre um esgotamento desses neurotransmissores, o que resulta na conhecida “fissura” e em estados de paranoia. Os neurotransmissores envolvidos nesse processo são a dopamina, serotonina e o sistema opiáceo. Com o uso irresponsável e repetitivo dessas substâncias, outras fontes naturais de prazer são negligenciadas, pois não conseguem competir com o prazer imediato proporcionado pelas drogas. Essa desilusão leva os usuários a comprometerem suas vidas, uma vez que se torna difícil abandonar estímulos tão intensos. É importante ter empatia, pois esse comportamento reflete uma disfunção cerebral. No entanto, é preciso ressaltar que cada indivíduo reage de maneira diferente às substâncias e que fatores genéticos, ambientais e psicológicos também influenciam a propensão ao vício. O vício é uma condição complexa que requer compreensão e suporte, ao invés de condenação. O acesso a tratamentos adequados e o apoio social são fundamentais para ajudar as pessoas a superarem o vício e recuperarem uma vida saudável.

Usando o cbd no tratamento da dependência

A dependência de substâncias é um equilíbrio delicado entre a falta e o excesso. Quando o cérebro de um indivíduo se acostuma com doses elevadas de uma droga, ocorre uma resistência aos endocanabinoides, que são moléculas similares às encontradas na maconha e ativam os mesmos receptores no cérebro relacionados ao prazer e bem-estar. O uso excessivo de drogas prejudica esses mecanismos naturais do corpo. Nesse contexto, o uso do canabidiol (CBD) como tratamento para a dependência é uma esperança para aqueles que precisam lidar com essa condição. Em casos de dependência de maconha, por exemplo, a terapia com CBD segue um raciocínio similar aos medicamentos utilizados no combate ao tabagismo. Um exemplo de tratamento é o nabiximol, um spray que contém 2,7 mg de THC e 2,5 mg de CBD, dois dos principais componentes da maconha. Essa opção oferece ao usuário uma versão mais segura e menos concentrada dos compostos presentes na droga. Enquanto um baseado de maconha pode conter entre 10 e 15 mg de THC, o nabiximol proporciona uma alternativa com uma dosagem mais controlada. No Brasil, essa forma de terapia ainda é incomum. Geralmente, psiquiatras prescrevem medicamentos tarja vermelha ou preta, como antidepressivos e ansiolíticos, que também podem causar dependência. No entanto, há profissionais, como o médico Gilberto Kocerginsky, no Rio de Janeiro, que têm obtido resultados positivos com o uso do CBD em dependentes químicos desde 2014. Uma das vantagens mais significativas do CBD é sua capacidade de regular e modular os neurotransmissores sem causar dependência. Esse composto age no cérebro sem criar uma nova forma de vício. No tratamento da dependência, o CBD pode ajudar a controlar as fissuras e os sintomas de abstinência, além de restaurar a função cerebral e prevenir recaídas. A dosagem adequada de CBD é um desafio no tratamento, pois cada paciente possui demandas e necessidades únicas. É importante ressaltar que o tratamento com CBD deve ser acompanhado por profissionais qualificados e deve ser personalizado para cada indivíduo. Estudos também estão sendo realizados para avaliar os efeitos do CBD no desejo e nas recaídas, principalmente em casos de dependência de substâncias altamente viciantes, como a cocaína. Entender o papel do desejo é crucial, pois ele é um indicador confiável de recaídas e um sintoma angustiante da dependência. Após um período de abstinência, os indivíduos em recuperação ainda podem ser vulneráveis ao estresse e a outros gatilhos que despertam o desejo, levando a respostas fisiológicas intensas e sentimentos negativos. Portanto, o tratamento do desejo, combinado com psicoterapia ou psicanálise, pode ajudar a evitar recaídas e aliviar o sofrimento dos pacientes. É fundamental destacar que, assim como outras doenças crônicas, a dependência química pode apresentar períodos de recaída e remissão. Nesse sentido, os benefícios do CBD são evidentes, especialmente em relação à ansiedade, depressão e compulsão. No entanto, quando se trata do uso de substâncias altamente viciantes, como a cocaína, existe um desafio adicional relacionado ao desejo e às recaídas. Pesquisadores estão explorando os efeitos do CBD nesse aspecto, pois o desejo é um indicador importante de recaída e um sintoma angustiante da dependência. Após um período de abstinência, indivíduos que lutam contra a dependência permanecem vulneráveis ao estresse e a outros fatores que despertam o desejo, resultando em respostas fisiológicas intensas e sentimentos negativos, como raiva e tristeza. Investir esforços no tratamento do desejo, em combinação com acompanhamento psicoterapêutico ou psicanalítico, pode não apenas ajudar a prevenir recaídas, mas também aliviar o sofrimento dos pacientes. É importante ressaltar que o tratamento da dependência com CBD deve ser realizado sob supervisão médica adequada. Cada indivíduo tem necessidades e respostas diferentes, portanto, é necessário ajustar a dose para alcançar os efeitos desejados. Embora existam perspectivas promissoras, ainda há muito a ser estudado para compreender completamente o potencial do CBD no tratamento da dependência. No entanto, as evidências até o momento sugerem que o CBD pode desempenhar um papel significativo no auxílio ao tratamento da dependência, oferecendo uma abordagem mais segura e menos viciante para lidar com essa condição complexa. É fundamental continuar pesquisando e explorando todas as opções de tratamento disponíveis, a fim de oferecer soluções eficazes e individualizadas para aqueles que lutam contra a dependência de substâncias, incluindo a dependência de maconha.
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